segunda-feira, maio 17, 2010

Inverno 2009-2010 (5)

[Tradução de parte da análise de Jean Martin]

(continuação e finalização)

4) Em que estado se encontram as extensões de gelo nos dois Pólos?

Como é sabido, são muito numerosos os que anunciam que o Pólo Norte estaria muito próximo de ficar liberto de gelo. Instituições, como a NASA e bastantes outras, têm avançado prazos variando entre alguns anos e algumas décadas.

Vários governos do planeta, muito confiantes nestas predições (previsões, cenários), nomearam até “embaixadores dos Pólos”. Foram encarregados de discutir com representantes de outros países a propriedade de diferentes porções do Oceano Árctico.

O Árctico, tornado liberto de gelo, constituiria uma enorme reserva, tornada acessível, de petróleo e de gás… O embaixador dos Pólos francês é o sr. Michel Rocard [Primeiro Ministro de França entre 1988 e 1991].

[…] O que foi notável no comportamento primaveril [de 2010] do gelo do mar árctico foi a sua relutância em começar a fundir-se, como faz normalmente a partir do início do mês de Março. [Jean Martin apresenta uma curva semelhante à Fig. 197].

Foi necessário esperar praticamente um mês (até 31 de Março) para que se decidisse a fazê-lo. Durante aquele período assistimos a um aumento da superfície do gelo em vez de uma diminuição.

Se a extensão do mar gelado não atingiu a média dos anos 1979-2000, aproximou-se bastante. Eis que, este facto, não pressagia uma fusão acelerada todavia prevista, por certas pessoas, para um Verão próximo.

De notar que se tratou da fusão mais tardia que se conhece desde que se iniciaram as observações [por satélites] em 1979, segundo o NSIDC – National Snow and Ice Data Center.

Ninguém previu este comportamento tranquilizante e inabitual. E, como usualmente, nenhum dos nossos grandes media, nenhum órgão de imprensa – sempre prontos a anunciar (ou mesmo a antecipar) as más notícias – deu esta boa nova:

A superfície do mar gelado árctico quase que atingiu a média de 1979-2000! E começou a fundir apenas com quase um mês de atraso. Jean-Louis Etienne talvez tenha visto através do nevoeiro, do alto do seu balão, uma extensão imensa de gelo…

Encontra-se no blogue de Anthony Watts um estudo comparativo bastante minucioso entre dados de diferentes instituições (NANSEN Roos, etc.) que apresentaram resultados ligeiramente diferentes para os dias 6 e 7 de Abril… Mas tratou-se talvez de uma matéria de reactualização de dados [ironia de JeanMartin].

Contudo, o comportamento do mar gelado no ano anterior já anunciava uma boa evolução. A Fig. JM5 corresponde aproximadamente à mesma época, de há quase um ano, isto é, finais de Abril de 2009.

Manifestamente, a fusão do gelo na Primavera de 2009 era já nitidamente menos rápida do que a de 2007 e mesmo menos rápida do que a média 1979-2000. No ano passado, a extensão de gelo, ainda que em período de fusão, quase atingiu a normal 1979-2000 no final do mês de Abril.

Com efeito, a fusão do gelo no Verão de 2009 foi menos pronunciada do que a de 2008 que, por sua vez, fora menos pronunciada que a de 2007. O que não impediu um determinado órgão de comunicação social (Libération) de nos anunciar, em Setembro de 2009, (sem mostrar as curvas necessárias), que a fusão do Árctico acelerou!

Entretanto, do outro lado do planeta, o Pólo Sul estava no Verão austral. A Fig. JM6 mostra a evolução da extensão do mar gelado antárctico que rodeia o vasto continente, segundo o NSIDC.

Como se verifica, o ano de 2009 conheceu uma extensão de gelo superior à média. Aconteceu o mesmo nalguns anos precedentes. Dito de outra maneira, enquanto que o mar árctico estava no seu mínimo [minimorum] de extensão em Setembro de 2007 o mar gelado antárctico estava próximo do seu máximo [maximorum] de extensão, bem superior à média de 1979-2000.

Relativamente ao Verão-Outono austral, Janeiro-Abril 2010, como se pode ver na Fig. JM6, durante a fusão e durante o reenchimento do gelo verificou-se uma evolução seguindo, praticamente, a média. Ou seja, nada de alarmante neste lado [do planeta].

Possivelmente, estamos a assistir ao fenómeno bem conhecido dos glaciólogos-geólogos, mas inexplicável (salvo, talvez, para [o cosmoclimatologista] Svensmark), do designado “polar sea-saw”: báscula polar que faz com que quando um Pólo aquece o outro arrefece, de modo periódico…

[Esta báscula] corresponde à ideia, muito contestada, de que a superfície do mar gelado estaria correlacionada com as variações de temperatura do ar e não, como muitos pensam agora (como Vicky Pope [do MetOffice]), com as oscilações oceânicas.

É também muito provável que o reforço muito particular do mar gelado árctico esteja ligado à fase negativa da AMOAtlantic Multidecadal Oscillation como acontece actualmente… (*)

Mas tudo isto é muito complexo porque se sabe que a extensão do gelo depende dos ventos dominantes [ar de retorno quente/menos frio da circulação geral da atmosfera] que, por sua vez dependem das oscilações oceânicas, das correntes marítimas, etc. (*)

Resumidamente, estamos ainda longe de compreender tudo … mas os modeladores têm a faca e o queijo na mão [ao dispor do poder de (des)informar a opinião pública], como dizem certas pessoas.

Entretanto, os ursos brancos andam moralizados...

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(*) A troca entre causa (situação do Árctico ou do Antárctico) e efeito (fases dos índices meteorológicos como a AMO, a NAO, a ENSO, etc.) é típica de uma das escolas tradicionais baseada nas estatísticas.