sexta-feira, abril 16, 2010

O «aquecimento global» face à vaga de frio (1)

[Tradução da nota de 18 de Janeiro de 2010 publicada por Benoît Rittaud]

Comecemos com uma informação jornalística:

O veredicto pode ser dado mesmo antes do fim do mês: Depois de uns bons dias de frio, o início do Inverno de 2010 foi, no Hemisfério Norte, um dos mais glaciais desde há longa data. É oportuno fazer o ponto da situação sobre as causas e sobre os efeitos de um episódio doloroso que se inscreve no contexto geral de um arrefecimento climático de consequências múltiplas. E que promete repetir-se cada vez mais frequentemente.

Os leitores podem pensar sem dúvida que o autor destas linhas é um céptico climático que coloca os seus desejos à frente da realidade. Mesmo que, para agradar, assumíssemos que os fenómenos solares e oceânicos vão arrefecer a Terra à escala dos próximos dez ou vinte anos, a resposta ressoaria como um chicote: o tempo não é o clima. Um Inverno mais rigoroso aqui ou ali não tem nada a ver com uma tendência climática, mas somente com a variabilidade natural.

O clima deve ser estudado para períodos mais longos, eis porque … mas de facto, onde tinha eu a cabeça: não dei a referência da passagem acima. Devo dizer que a deformei um pouco. A citação exacta é na realidade a seguinte:

O veredicto pode ser dado mesmo antes do fim do mês: pela sua temperatura média recorde e após uma boa vintena de dias de canícula, o mês de Julho de 2006 foi, pelo menos em França, o mais quente de todos os meses de Julho desde a invenção do termómetro. É a ocasião de fazer o ponto da situação sobre as causas e sobre os efeitos de um episódio doloroso que se inscreve no contexto geral do aquecimento climático de consequências múltiplas. E que promete repetir-se cada vez mais frequentemente.

Estas palavras foram tiradas de um artigo do Nouvelle Observateur, publicado no dia 3 de Agosto de 2006, no contexto da canícula de 2006. Ora bem…

Os media não cessam de nos recordar que a vaga de frio das últimas semanas “não põe em causa o aquecimento global” e, menos ainda, a sua “origem humana”, precisamente, em virtude deste argumento absolutamente exacto: o tempo não é o clima. Uma tal unanimidade a favor da distinção entre tempo e clima poderá sugerir que, pondo de lado o caso Nouvelle Observateur, os meios de comunicação social tiveram o mesmo cuidado perante as canículas de 2003 e 2006?

Está longe de ser esse o caso embora, para ser honesto, diga que foram bastantes os jornalistas que tiveram o cuidado de especificar a ausência do nexo de causalidade. Uma maneira corrente de apresentar as coisas foi qualquer coisa como: A canícula de 2003 não pode ser directamente ligada ao aquecimento global, mas este tipo de acontecimento revela-nos o que vai acontecer cada vez com maior frequência no futuro.

Tecnicamente perfeito, um tal enunciado produz uma forte associação de ideias. Pode-se perguntar sobre o modo como este enunciado foi assimilado, sobretudo quando, caso frequente, a ausência de ligação causal não é claramente indicada.

(continua)